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Cavalo de corrida, um indicador econômico?
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Cavalos e Corridas
on terça-feira, 1 de setembro de 2009
Na relva resplandecente de Deauville, na Normandia, a capital das corridas de cavalo na França, o potro aproxima-se calmamente. Um esplendor.
Os compradores se agitam. O leiloeiro apresenta o pedigree do animal: "Este alazão de um ano é filho do americano Storm Cat, um dos mais caro do mundo".
Os "olheiros", esses homens encostados no ringue, encarregados de decifrar os gestos quase invisíveis dos interessados (um comprador toca a orelha, outro esfrega o nariz, o terceiro abaixa as pálpebras), sondam o público e gritam. Começam os lances. E, afinal, o martelo do leiloeiro é batido: 900 mil pelo cavalo. Um recorde.
Tem início um movimento febril. E-mails partem para todo o país, para Londres, Nova York. E não são apenas os fanáticos por corridas de cavalos que são informados da boa notícia, mas também banqueiros, especialistas em finanças, operadores de bolsas, talvez até ministros. É que o belo alazão diz coisas muito importantes. Que coisas? No céu sombrio da crise financeira, após a explosão de bancos, a demissão de milhões de empregados, surgiu em Deauville um pouco de azul.
As pessoas poderão dizer que o preço do garanhão não diz muita coisa porque é actividade rara, restricta, e só interessa a grandes fortunas mundiais. Não é exacto. Todas as vendas anteriores, por exemplo em Newmarket, rival britânica de Deauville, foram afectadas. O mercado desceu em setembro de 2008 nos EUA, depois na Austrália e na Inglaterra. A queda registrada foi de 20% a 30%.
Quem são os nababos que conseguiram digerir a crise a ponto de pagar fortunas como essa? O mais imponente foi o xeque de Dubai, Mohammed Al Maktoun, que adquiriu sete cavalos (entre eles, o filho de Storm Cat) por 3,33 milhões. O irmão de Mohammed, Hamdam, adquiriu 20 puros-sangues por 4,190 milhões.
A semana foi uma festa. O recorde do ano precedente foi batido. Entre os compradores, outros príncipes árabes, mas também irlandeses e o inglês Robert Ogden, três compradores japoneses e também o Jockey Clube de Hong Kong. E os russos? Os oligarcas russos? Não foi o ano deles. O que confirma que a crise provocou sérios estragos na Rússia.
Não seria o caso de usar como indicador econômico os potros, os puros-sangues e os alazões de Deauville ou de Newmarket? Não podemos menosprezar a ciência financeira dos puros-sangues. Se refletirmos nas bobagens proferidas por especialistas financeiros, armados com todas as estatísticas do mundo, devemos pensar que a sabedoria dos potrinhos e dos pôneis é melhor do que a dos operdores imbecis, corrompidos e malucos, ou mesmo a dos velhos alunos de Harvard.
Sugiro uma nova disciplina no curso de Economia: como interpretar leilões de cavalos. Os estudantes seguiriam para Deauville ou Chantilly, onde examinariam os pôneis. Se eles estiverem felizes, saltando obstáculos alegremente e voltando para os estábulos dançando, pisando no caminho numa bela flor do campo, não há dúvida, o fim da crise não estará muito longe.
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